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O que você tem a ver com a uberização do trabalho? Tudo!

Publicado em

16.04.21 às 13:44
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Leonardo Pessoa

Difícil pensar os grandes centros urbanos mundo afora sem os aplicativos de entregas ou mobilidade. Eles vieram com força e viraram parte das nossas vidas, ainda mais em tempos pandêmicos. Da mesma forma, é complicado acessar qualquer um desses serviços sem questionar o futuro do trabalho (ou do presente, né?).

Quem fala com muita propriedade sobre isso é Paulo Lima Gallo, do grupo Entregadores Antifascistas. Ele foi o convidado de um debate promovido ontem pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo. Na pauta, o jornalismo e a uberização.  

Separei alguns pontos:

Chegando a todos – Gallo acredita que a precarização das relações de trabalho por meio desse modelo que vende uma imagem de autonomia, flexibilidade e sob demanda, não é um processo exclusivo dos entregadores, mas vai avançar para a classe trabalhadora inteira. “Vai chegar para o jornalista? Acho que já chegou. Muitos são MEI, PJ. Quando os entregadores vão para um app, vão porque é o que tem. Os aplicativos não inventaram o mercado de delivery, eles cercaram esse mercado”.

Sevirologia – Gallo é motoboy desde 2012. Em 2015, sofreu um acidente e decidiu parar. Sem outras opções de trabalho, voltou ao mercado, mas já em um contexto diferente, quando os apps já dominavam as entregas. “Eu fui viver da sevirologia mais uma vez. Não somos empreendedores, somos trabalhadores”. Sevirologia, segundo ele, é um termo emprestado de um colega, que usa para descrever o seu jeito de sobreviver: se virando.

Como mudar isso? O líder dos Entregadores Antifascistas – que ficou famoso ao denunciar aplicativos de entrega – sabe o que fazer: criar o próprio app dos trabalhadores em sistema cooperativista, se organizar para o futuro. Enquanto isso não acontece, a reivindicação é pelo vínculo empregatício. Falando nisso, em abril último, a Uber informou que passará a conceder direitos trabalhistas a todos os seus motoristas no Reino Unido.

Manga com leite faz mal? “Hoje, o problema é que a carteira virou manga com leite. Dizem que faz mal. Nada. É gostoso. Dizem que você vai ganhar menos com a carteira, que impede o progresso…mais empregos, menos direitos. E ainda nos perguntam por que chamamos Entregadores Antifascistas?”.

Conexão com jornalistas – Ele aproveitou o debate para agradecer a abertura que os entregadores têm em veículos como The Intercept, Alma Preta, Jornalistas Livres e A Verdade. “Foi com a ajuda de jornalistas que se enxergam como classe trabalhadora que eu comecei a denunciar o que estava acontecendo, viralizando e encaixando as lutas que deixaram de ser individuais, e tornaram-se coletivas”.

Maior desafio – Para o líder dessa “nova” categoria, o grande desafio deles não é criar um app e operar cooperativamente, mas fazer isso fora da cartilha capitalista, vivendo dentro de um mundo rodeado por essa estrutura. “Não tem que ser só captação de demanda, mas de luta anti-opressão. Os entregadores não podem vir só porque precisam de dinheiro ou trabalho, mas entendendo que essa é uma forma mais justa, saber de onde vem a ideia de cooperativismo, e que a luta vem na frente do trabalho. Precisa muito trabalho de base para fazer esse app”, explica. E, se esse projeto exige paciência, parece que tem chances reais de dar certo. Gallo diz ser um cara que sabe esperar. “Não é miojo, não fica pronto em 3 minutos”.

Se quiser assistir o debate inteiro, clique aqui.

Finalizando, quatro coisinhas:

1 – Parabéns ao Sindicato dos Jornalistas de São Paulo que completou 84 anos ontem!

2 – Segundo a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), o Brasil é o país com o maior número de profissionais mortos pela Covid-19. Foram 169 até o final de março. Esse dado tem tudo a ver com a precarização do trabalho!

3 – Seja lá qual for a sua atividade, já parou pra pensar que ela pode se transformar em um app?

4 – É bem legal termos cada dia mais organizações superdiversas e inclusivas. Melhor ainda quando não precarizam as relações com os seus trabalhadores, não é mesmo?

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